Fazer negócio, trocar mercadorias e serviços por alguma coisa é quase inato do ser humano. Vivemos em um tempo em que uma parte da sobrevivência da espécie humana está baseada em relações comerciais, dentro deste contexto, como será que os índios fazem negócio?
Movida por esta curiosidade, saí em busca de um representante indígena. Uma grande amiga me apresentou à índia Waxy Yawanawá, 46 anos, dos índios Yawanawá do Acre.
“Yawanawá é um povo bem aculturado, a gente trabalha para manter a nossa cultura bem preservada”, Waxy começa a conversa. “Estudamos a nossa cultura bem tradicional e o nosso conhecimento bem profundo. Também temos várias pessoas estudando no mundo dos brancos, administração, direito… Eu tenho uma sobrinha que é médica” completa.
Dentro do movimento de resgate e fortalecimento de sua cultura , desde de 2002 acontece o Festival Yawanawá, uma semana de celebração com danças, cantos e rituais. A edição 2017 acontece entre os dias 25 e 30 de outubro.
Além da importância para o próprio povo Yawanawá, o evento é um ponto de intercâmbio com outras tribos, que vão conhecer a iniciativa. E há alguns anos, foi aberto para o público que busca uma experiência única no meio da Floresta Amazônica, e tem disposição para uma jornada de três dias a partir a cidade de Rio Branco com Acre, com uma logística que envolve 500 km por terra e mais oito horas de barco pelo Rio Gregório até chegar à aldeia.
E quando o assunto é fazer negócio?
A The Nature Conservacy, organização não governamental global que está no Brasil há 28 anos, foca seu trabalho em três áreas prioritárias: segurança hídrica, agropecuária sustentável e infraestrutura. Esta ONG desenvolveu uma proposta de diretrizes brasileiras de boas práticas corporativas com povos indígenas. Segundo sua apresentação, o objetivo deste documento é “orientar a relação entre setor empresarial e povos indígenas no Brasil”, e consolidar “uma agenda positiva entre ambas as partes, contribuindo para a garantia dos direitos indígenas e a redução dos riscos operacionais e de reputação, assim como a potencialização de oportunidades”. Se você se tem interesse em saber mais sobre como se relacionar comercialmente com os índios, este conteúdo pode ser um início.
Quanto aos Yawanawá, eles se organizaram em uma associação, a Associação Sociocultural Yawanawá – ASCY que, entre outras atividades, oferece suporte nas relações comerciais, especialmente com os brancos. Seus principais setores de atuação são: saúde e bem-estar, com a difusão da medicina indígena não só pelo Brasil, mas em outros países também; turismo em parceria com operadores como a Dreamcatcher Brasil que promove visitas e vivências em parceria com os povos indígenas; artesanato, como ferramenta de geração de receita e difusão do legado indígena.
“A sinceridade é base para um bom negócio”
Como bem disse Waxy, quando se refere ao seu povo, os índios são atuantes e conectados. A variedade de serviços e produtos, juntamente com a quantidade de perfis e páginas relacionados a eles no Facebook são evidências da maturidade dos negócios indígenas.
Contratos escritos não fazem parte da cultura original dos índios, mas vem sendo incorporados na rotina de negócio com o povo branco. O que é importante para se relacionar comercialmente com os índios, como aponta Waxy Yawanawá, é a sinceridade. Apesar de ser um conceito um pouco subjetivo, é valioso não só nas relações comerciais com os índios, como nas relações em geral com todos.