Por Juliana Costa
Nos dias atuais em que falamos tanto em empoderamento feminino, em que youtubers se posicionam em seus direitos sobre seus pensamentos, em que mulheres vão às ruas nuas para reclamarem o direito ao próprio corpo, nossos interesses sobre o tema aumentam na mesma proporção, nos trazendo reflexões e nos impulsionando pela busca de histórias que nos fortaleçam e que nos façam sentir na pele de outra alma feminina, ainda que em um continente distante. Seguindo esse caminho, num encontro entre essas mulheres que buscam, em constante movimento interior por informações, ainda que devastadoras, me deparei com uma linda e aflitiva obra literária de uma jornalista chinesa, a Xinran.
“As Boas Mulheres da China” é um daqueles livros em que nos emocionamos e nos chocamos com a realidade. Durante oito anos como apresentadora do programa de rádio Palavras na Brisa Noturna, a jornalista enfrentou as severas leis chinesas, o peso das tradições antigas e as décadas de totalitarismo político e repressão sexual, com muita cautela, paciência e compreensão. No seu programa, por meio das cartas enviadas pelos ouvintes, ela deu voz e conheceu histórias de abandono, casamentos forçados, abusos sexuais, violências, repressão às manifestações afetivas, histórias de mulheres que enlouqueceram em meio a provações sucessivas, além de sua própria história de vida, separada dos pais, ainda criança, e vítima de humilhações por conta de sua cultura e de seu poder econômico.
A situação era tão grave que levou uma menina a ter afeto por uma mosca. Todas as várias histórias narradas pela jornalista, histórias reais, deixam nossos pés no chão. Algum dia desses, em uma palestra, aprendi duas coisas: primeiro que para vencer o mal, o bem precisa ser audacioso e que temos duas saídas para as notícias que nos cercam nos meios de comunicação: ou achamos tudo um absurdo e falamos que não tem mais jeito, ou colocamos um olhar de esperança, pois se temas como esses hoje são trazidos à superfície, gerando debates, criando leis e delegacias em prol das mulheres, é porque estamos evoluindo e, sim, temos esperança de um mundo melhor. De pensarmos que, por exemplo, na década de 1980, quando uma menina era agredida pelo pai a ponto de não andar mais, ninguém interferia e o agressor não recebia punição. Hoje, essas meninas ou mulheres, podem contar com outras vozes que também lutam por elas.
Ao citar esse livro da jornalista chinesa, não estamos fazendo uma comparação cultural ou levantando alguma bandeira, apenas refletindo sobre o nosso papel enquanto mulher e dizendo que o bem precisa ser audacioso, precisa ser corajoso, precisa ter voz alta para calar e intimidar o mal e que se isso for por meio do empoderamento feminino, que possamos nos unir para que histórias como essas do outro lado do continente, daqui alguns anos, sejam apenas lembranças de um passado distante. Que um dia nossas hoje meninas, mas futuras mulheres, possam se orgulhar de todas Xinran’s corajosas empoderadas espalhadas pelo nosso globo.